
Num bairro da periferia do Rio de Janeiro, no Brasil, onde as casas envelhecem antes de serem concluídas e as famílias lutam para sobreviver como podem, nasceu José Gabriel Silva Kafa, um estudante que sonha em consolidar sua vocação sacerdotal.
José Gabriel tem 23 anos, é um seminarista que estuda o terceiro ano de Teologia nas Faculdades Eclesiásticas da Universidade de Navarra e reside e recebe uma formação integral no Seminário internacional Bidasoaem Pamplona.
Em sua casa, a fé não era explicada: era vivida. Seu pai, trabalhador do comércio, e sua mãe, formada em administração, mas dedicada ao lar, transmitiram a religião e a fé com naturalidade, sem pretensões nem alarde.
Nunca se consideraram uma família exemplar e digna de ser imitada, simplesmente consideravam que acreditar em Deus e a fé faziam parte da vida quotidiana. Foi esse ambiente estável que permitiu a José Gabriel levar Deus a sério, sem necessidade de rupturas ou episódios dramáticos.
A adolescência na paróquia
Aos 14 anos, começou a servir como acólito. A sacristia, o altar e o convívio diário com o seu pároco foram, pouco a pouco, o ambiente e o lugar onde compreendeu que a vocação sacerdotal não era uma ideia abstrata.
A sua adolescência transitava entre a paróquia, o futebol e os encontros diocesanos: atividades que hoje recorda como o espaço onde descobriu que a fé poderia ser uma forma concreta de estar no mundo.
O curso de Confirmação marcou um ponto de inflexão. Lá, ele conheceu jovens que buscavam a Deus sem complexos. Esse ambiente o levou a questionar-se sobre o que desejava fazer com a sua própria vida. Aos dezoito anos, após iniciar os estudos de Filosofia, ingressou no seminário.

A diocese do Rio, um terreno complexo
A arquidiocese do Rio de Janeiro, uma das maiores do país, conta com cerca de 750 padres distribuídos por 298 paróquias. Dos mais de seis milhões de habitantes, 43,6% se declaram católicos, mas aumenta o número de pessoas sem religião e que convivem com diversas tradições: protestantes, espíritas, umbandistas, sincretistas, candomblegas...
José Gabriel descreve este panorama sem dramatismo, mas com muita lucidez. Ele afirma que evangelizar no seu país significa falar de Deus a uma população que aprendeu a desconfiar, inclusive no plano afetivo. «Muitos não acreditam no amor, porque viram como ele se desfaz», explica. Por isso, admira o trabalho do seu arcebispo, presente em bairros e comunidades muito diferentes. Esse estilo pastoral – próximo, constante, sem artifícios – é o modelo no qual ele próprio se inspira para aprender e melhorar como futuro servo de Deus.
Quando fala sobre missão, ele evita frases feitas. Para ele, evangelizar consiste em «viver de uma maneira que torne credível o que se prega». Não se refere a proezas morais, mas à coerência: uma vida dedicada que seja visível nos gestos cotidianos. A simplicidade de evangelizar com o exemplo, sem procurar aplicar técnicas de marketing.
Considera que a banalização do amor e a fragilidade familiar deixaram feridas profundas em muitos jovens. Por isso, insiste que o anúncio cristão só pode ser compreendido se for demonstrado um amor estável e capaz de reconstruir.

A sua chegada a Espanha permitiu-lhe descobrir outra forma de viver a fé. Ele aprecia a beleza da liturgia e a seriedade intelectual do ambiente em que se encontra agora, mas percebe menos envolvimento comunitário do que no Brasil. Ele não formula isso como crítica, mas como contraste: «aqui tudo é cuidado e bem celebrado, mas às vezes falta a proximidade que motiva a participar e a servir».
Quando questionado sobre o tipo de sacerdote que a Igreja necessita atualmente, ele responde sem rodeios: «alguém que realmente ame a sua vocação, que estude seriamente e que reze sem concessões. Num contexto secularizado, as pessoas percebem rapidamente se um sacerdote acredita no que diz ou se apenas cumpre o seu papel», afirma José Gabriel Silva Kafa.
Uma história sem fogos de artifício
A trajetória de José Gabriel não se sustenta em milagres impressionantes nem em experiências extraordinárias. Ele nasceu em uma família coerente com sua fé católica, viveu a proximidade de uma paróquia ativa e um processo lento no qual aprendeu a ouvir Deus em meio ao ruído cotidiano.
Hoje, ele continua esse caminho longe do seu país, num seminário que, segundo ele mesmo reconhece, também está a moldá-lo. A sua história é simples, mas deixa claro que a vocação pode crescer em silêncio e tornar-se sólida com o passar do tempo.
Marta Santín, jornalista especializada em religião.
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